Resenha - Sons of Anarchy

Criada e roteirizada por Kurt Sutter, Sons of Anarchy é uma série primorosa e que foge do 'lugar comum' das atuais séries.

O cerne da história gira em torno do clube/gangue de moto chamado Sons of Anarchy - também conhecidos como SAMCRO- e de Jackson Teller, vice-presidente. A cidade fictícia em que tudo se passa é Charming, norte da Califórnia. O líder do grupo, Clay, é interpretado pelo conhecido ator Ron Perlman, que herda a vaga do antigo presidente, pai de Jax, que morreu. Logo no começo somos introduzidos a esse universo de forma rápida e funcional, sem enrolar quem assiste. Ponto positivo. Enrolação deve ser evitada.

A princípio, a trama consegue conciliar e trabalhar muito bem com todas as histórias, incluindo as subtramas. A forma como Kurt Sutter trabalha as personagens é formidável. Os conflitos pessoais do protagonista Jax, por exemplo, não ficam apenas 'jogado' na história. Tudo é muito bem contado e se alia com o foco principal: O clube de motos.

A série, devido sua temática, é regada à cenas de sexo, além de conter cenas de uso de drogas, de homicídios, de estupro e por aí vai.

Foto: Divulgação

Os atores, pelo visto, foram escolhidos a dedo. Todos conseguem exercer um ótimo papel e se encaixam com perfeição na historia. As únicas personagens que ficam um pouco aquém são os atores secundários, mas que nada interferem na obra-prima que é Sons of Anarchy.

Sons of Anarchy utiliza de alguns famosos arquétipos de gangues de moto - algo inerente e obrigatório-, como as famosas jaquetas com o nome da gangue, policiais corruptos aliados ao grupo, a sede do clube regrada à bebidas e drogas etc. As persogens dos membros do clube são bem estruturadas e possuem, na maioria das vezes, características únicas e importantes, não são apenas figurantes de jaqueta.    

É possível notar, também, em alguns momentos, uma inspiração em um dos ícones dos filmes de gangues: The Warriors (1979). A forma como agem, o principal rival do clube, as disputas internas, a lealdade, são algumas características que se assemelham muito ao famoso filme da década de 70.

As cenas de ação, tão essenciais em uma série desse tipo, não são tão recorrentes e, na maioria das vezes, não possuem uma qualidade boa; porém, compensa com uma história forte e envolvente, capaz de prender os telespectadores. Algumas cenas chegam a ser risíveis, como por exemplo um tiroteio frenético, a queima roupa, em que TODOS conseguem errar os tiros. A explicação poderia até ser simples: ninguém ali foi treinado para atirar, mas ainda sim não seria lá muito plausível para aquilo que se viu. Outras cenas são feitas com boa qualidade.

Os momentos em que há um certo romance são muito bem feitos e orquestrados. Como já disse, nada é jogado e forçado na trama, é tudo muito orgânico. Os dilemas entre membros, os problemas, a crueldade, as perdas, o tráfico de armas e drogas, tudo isso é possível encontrar em Sons of Anarchy.

Por se tratar de uma série sobre gangue de motocicletas, os membros do clube funcionam, na verdade, como antagonistas. Os policiais, por outro lado, seriam os protagonistas em um universo mais racional. Porém, não é bem assim que acontece. Kurt Sutter fez com que essa subversão de valores fosse muito bem feita. Você acaba torcendo pelo clube, pelo 'vilão'. Podemos encontrar algo parecido em Breaking Bad, Sopranos, House of Cards e em muitas outras séries em que os 'protagonistas' são os bad guys.

A tensão política está presente na série. Com divergências na hora de agir, esse clima de guerra interna é muito válido. De um lado, o lado ortodoxo de governar o clube do Clay; do outro, Jax e seu jeito de pensar mais moderno. Todo esse conflito interno e a forma como alguns membros escolhem um lado é muito interessante e acrescenta muito à série.

A fotografia da série funciona, mas está longe de ser um obelisco. É tudo relativamente simples, mas que não compromete de maneira alguma. Em alguns casos, os closes nos rostos das personagens conseguem transmitir emoção para quem assiste, visando humanizar os membros do SAMCRO. Há momentos, inclusive, que o clube comete erros graves, mostrando que são falhos. Passando a mensagem clara que Sons of Anarchy não é a típica série que tudo dá certo no final. 

Sons of Anarchy é, sem dúvida, umas das grande séries já feitas. Possuem todos os elementos essenciais para estar entre as melhores: roteiro e direção ótimos; personagens que você se importa, uma história crível. Não sei se haverá outra série sobre clube de motos; mas se tiver, será difícil superar Sons of Anarchy.

Sentimento final: Satisfeito

Nota: 9.2

Em tempo: As cenas de ação melhoram em qualidade com o passar da séries, elas tornam-se em algo consideravelmente mais crível.

Gustavo Henrique Veras Azeituno, estudante de jornalismo na Universidade de Guarulhos (UNG)