Resenha - Chatô: O ‘anti-herói’ do Brasil

“Se a lei é contra mim, então, meus senhores, vamos ter que mudar a lei”, essa frase sintetiza muito bem as intenções e características de um dos maiores jornalistas e visionários que o Brasil já teve. Amado por uns, odiados por outros, esse é Assis Chateaubriand.

O livro, escrito por Fernando Morais (Publicado pela Companhia das Letras) conta, de forma detalhada e minuciosa, a história de um dos ícones da comunicação brasileira: Chatô. O próprio nome do livro -Chatô: O Rei do Brasil- metaforiza e joga coma as palavras. Então, o livro nos da a liberdade para associar de forma clara a palavra “rei” com o império que ele, Assis Chateaubriand, construiu e durante muito tempo reinou. O rei da comunicação e dos comunicadores na terra tupiniquim– seguido de perto pelo Silvio Santos, a meu ver.

Fernando Morais descreve a vida de Assis em uma ordem cronológica e cria a expectativa na forma como Chatô conseguiu chegar ao poder. Passando pela sua infância com gagueira e com  alfabetização tardia, até seu auge: rico e com um império debaixo de suas asas. Com uma linguagem direta, o autor é claro o objetivo ao narrar os fatos, sem colocar qualquer tipo de opinião.  Cabe ao leitor ler e chegar à sua própria conclusão, dando margem à interpretação.

Foto retirada da página da Submarino.

A determinação de Chatô pode ser, inclusive, comparada com a de Antonio Salazar – cada um com objetivos distintos, obviamente-,  ambos visionários à sua maneira. Parafraseando Salazar: “Sei muito bem o que quero e para onde vou”, frase que exemplifica muito bem a relação de poder e protagonismo (ou antagonismo) de ambos.

Chatô: O Rei do Brasil tem uma linguagem muito clara, porém às vezes muito cansativa e detalhada, causando a sensação de cansaço e obrigação para o leitor. As mais de 700 páginas podem servir como um ‘não estimulante natural’. O livro tem uma ‘pegada’ mais didática, com intuito de informar e conhecer vida e obra de Assis, pode até ser considerado mais difícil de ler para aqueles mais acostumados a uma leitura, digamos, mais popular, como romance, terror ou até livros com temática fantástica.  

Assim como Tesla, Nelson Rodrigues, irmãos Lumière, George Méliès, Edgar Roquette Pinto, Santos Dumont, Gutenberg e muitos outros, por exemplo, são considerados os ‘pais’ de suas respectivas áreas, Assis Chateaubriand pode, sim, ser intitulado como o pai da comunicação no Brasil, o homem que ‘trouxe’ a TV para o Brasil.

Mentor e criador de várias empresas do ramo televiso/jornalístico, entre elas a revista O Cruzeiro e a Rádio Tupi, Assis é o pioneiro na comunicação brasileira, Chatô sabia disso e soube explorar de forma magistral. A imagem de Chateaubriand, hoje, está ligada de forma intrínseca como o 'pai' da comunicação brasileira, com muitos méritos, é verdade; porém, existe outro lado, o lado negro de Chatô. A frase que deu início a essa resenha é a prova sintomática disso. Muitas vezes, Assis não tinha problema em passar por cima de outros para alcançar seu objetivo, doa a quem doer. Por isso a menção a Salazar acima é, agora, mais válida e aceitável.  

“Se a lei é contra mim, então, meus senhores, vamos ter que mudar a lei”, se essa frase fosse dita por Vargas, Mussolini, Hitler, Salazar, Franco e outros ditadores, ninguém acharia estranho, em um primeiro momento, pelo menos. Vindo de Chatô, entretanto, causa uma maior aceitação e compreensão. Uma relação paradoxal, afinal, para muitos um herói; para outros, o anti-herói, aquele que odiamos amar.

 

Gustavo Henrique Azeituno, estudante de jornalismo na Universidade de Guarulhos (UNG).