13 Reasons Why - Resenha
Contar o cotidiano de jovens em uma escola típica americana pode parecer clichê - e de fato é -, mas quando temos acrescentadas à trama uma jovem garota que se suicidou e fitas contando as razões pela escolha de tirar a própria vida, que inclusive foram entregues aos 'culpados', temos algo no mínimo interessante em mãos.
A série original da Netflix, adaptada por Brian Yorkey, inspirada no livro homônimo, relata a triste história dos motivos que causaram o suicídio de Hannah Baker (Katherine Langford), explicando-os em sete distintas fitas, indicando, também, os responsáveis pelo suicídio.
A idéia de Hannah é simples e perturbadora: os áudios devem ser escutados por todos citados nas fitas, quem as escuta deve, então, passá-las adiante para outro jovem mencionado, até que todos tenham escutado, caso alguém tente destruí-las ou não as repassar, um amigo de confiança de Hannah vazará todas as gravações. O objetivo é expor tudo o que a garota passou e sofreu durante seu período no ensino médio, deixando claro aos jovens que são parte vital em sua trágica morte.
A trama foca no ponto de vista de Clay Jensen (Dylan Minnette), que até então é o último a receber as fitas. Cada episódio da série trata sobre um ‘responsável’ pela morte de Hannah, enquanto nós ouvimos os áudios simultaneamente com Clay. Quem assiste descobre a verdade por traz do suicídio da jovem de 17 anos junto ao Jensen, o que causa uma sensação de imersão muito grande, não só por acompanharmos o desenrolar das fitas da mesma forma que o garoto, mas por muitas vezes nos colocarmos nas situações expostas nas gravações.
A série consegue passar perfeitamente uma sensação incômoda, de revolta e desespero, trazendo cada vez mais quem assiste para o mundo de 13 Reasons Why, através de uma junção de sentimentos, sobretudo entre os jovens, que são o público-alvo.
Clay e Hannah possuem uma química excelente, revelando uma paixão quase que proibida, que nunca chega (e chegará) ao ápice. Há, aqui, uma forte sensação de incapacidade, que envolve quem assiste, colocando-nos no lugar do garoto, buscando alternativas de como a morte de Hannah poderia ser evitada.
Jensen traz seu lado inocente e tímido à tona, enquanto buscar encontrar os porquês do suicídio de sua amiga, uma garota divertida, simpática e espontânea, que ao passar da série vai mudando, transformando-se em uma jovem insegura e depressiva, sempre à procura por respostas e uma razão para continuar.
Alguns detalhes da história são simples, mas que ajudam a tornar a experiência com a série a mais orgânica possível. O machucado que Clay possui na testa, sofrido ainda no primeiro episódio, serve como ponto de referência na linha temporal, situando quem assiste nas frequentes trocas entre pré e pós-suicídio. Em suma, todas as cenas em que Jensen estiver com o curativo na testa se passam depois da morte de Hannah. Sutil, mas importante e inteligente.
13 Reasons Why conta com personagens estereotipados, como o pessoal do time de basquete, os nerds e as cheerleaders. Entretanto, é interessante como a série os une, colocando-os todos como ‘culpados’ pelo suicídio de Hannah, seja a nerd ou o bully. Funciona muito bem esse paradoxo moral, de aceitar que até o mais correto e ético pode ter papel vital na vida de uma adolescente prestes a se matar.
A série funciona, também, como uma obra de conscientização, tratando o assunto bully de forma realista e autêntica, expondo os horrores e consequências, incomodando quem assiste. Alguns dos conceitos inseridos na trama evidenciam o fato que qualquer um pode ser um bully em potencial, sem precisar ser necessariamente uma pessoa ruim.
Mas a série convive com algumas falhas, claro. Há pequenos furos dentro da história, como a entrada Ryan no grupo dos ‘responsáveis’ pela morte de Hannah, que aconteceu de forma repentina e nada natural, causando uma sensação de estranhamento. Podemos notar em alguns episódios certa apelação, criando e forçando situações não muito críveis, que nitidamente poderiam ser evitadas pela Hannah.
Entretanto, 13 Reasons Why é, sem dúvidas, uma das melhores séries da Netflix, retratando muito bem assuntos como o bullyng, o suicídio e a vida no ensino médio de uma escola dos EUA. Tudo indica que haverá uma segunda temporada, para a alegria dos fãs e de quem escreve.
Sentimento Final: Muito satisfeito.
Nota: 9.1
Gustavo Azeituno
Colaboraram: Brandon Tiburcio